O Forró

O nome forró deriva de forrobodó, "divertimento pagodeiro", segundo o folclorista Câmara Cascudo. Tanto o pagode (que hoje designa samba) como o forró são festas que foram transformadas em gêneros musicais. O forrobodó, "baile ordinário, sem etiqueta", também conhecido por arrasta-pé, bate-chinela ou fobó, sempre foi movido por vários tipos de música nordestina (baião, coco, rojão, quadrilha, xaxado, xote) e animado pela pé de bode, a popular sanfona de oito baixos. Uma versão fantasiosa chegou a atribuir a origem do forró à deturpação da pronúncia dos bailes for all (para todos), que no começo do século os engenheiros ingleses da estrada de ferro Great Western, que servia Pernambuco, Paraíba e Alagoas, promoviam para os operários nos fins de semana.

Com a imigração de grandes camadas da população nordestina para a região sudeste, inúmeras casas de forró foram abertas geralmente nas periferias antes de tornar-se modismo entre parte da juventude e estabelecer seus domínios nas regiões mais abastadas. No Rio, um dos mestres da matéria, o compositor maranhense João do Vale, pontificava no Forró forrado no bairro central do Catete, no final dos 70. No nordeste, as cidades de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB) disputam hoje a cada festa junina o título de capitais do forró com festejos de longa duração capitalizados como eventos turísticos que arrebanham multidões de visitantes.

Gonzaga e Jackson, os difusores Pioneiro na difusão da música de sua região no eixo Rio-São Paulo, o sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento (1912–1989) pode ter sido o primeiro a registrar o termo em disco no Forró de Mané Vito, parceria com Zé Dantas, em 1949. Entre outros temas desenvolvidos no mesmo ambiente, ele perpetuou Derramaro o Gai e Forró do Quelemente, ambos com Zé Dantas, nos anos seguintes. E mais:Forró no Escuro (1958), Numa Sala de Reboco (1964), com José Marcolino, Forró de Pedro Chaves (1967), Fole Roncou (um forrock com Nelson Valença, em 1973), Retrato de um Forró (com Luis Ramalho, no mesmo ano), Forró de Ouricuri (1983), Forrofiar, Danado de Bom (1984), Forró do Bom (1985), Forró de Cabo a Rabo (1986), Forró Gostoso (1988), os últimos seis em parceria com João Silva. Emérita forrozeira, a cantora Marinês (e sua Gente) atribui ao paraibano Jackson do Pandeiro (José Gomes Filho, 1919-1982) a responsabilidade pela implantação do forró no mercado sulista a partir do estouro de sua gravação de Forró em Limoeiro (Edgar Ferreira), em 1953. Clássicos criados por ele como Sebastiana (Rosil Cavalcanti), A Mulher do Aníbal (Genival Macedo/ Nestor de Paula) e Um a Um (Edgar Ferreira), regravados de Gal Costa aos Paralamas do Sucesso, e os específicos Forró em Casa Amarela, Na Base da Chinela, Forró em Caruaru, Forró de Surubin, Forró na Gafieira, Forró do Zé Lagoa ao lado da imagem dançarina – em dupla com sua mulher na época, Almira Castilho – contribuíram para fixá-lo como rei do ritmo.

A influência de Jackson, celebrada em Jacksoul Brasileiro pelo pernambucano Lenine, motivou um grupo, o Cascabulho, a especializar-se em sua obra e resultou no CD tributo Revisto e Sampleado com participações de Gal Costa, Chico Buarque, Zeca Pagodinho a Fernanda Abreu, Paralamas e O Rappa. Já no tributo Baião de Viramundo grupos do movimento mangue beat e adjacências como Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, Sheik Tosado, Stela Campos, Mestre Ambrósio, Otto, DJ Dolores, Comadre Florzinha reagravaram um Gonzaga de pique eletrônico. Os discípulos da dupla contam-se de Gilberto Gil, Antonio Barros & Cecéu a Alceu Valença, Fagner, Nando Cordel, Jorge de Altinho, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.

Também o pernambucano José Domingos de Morais, o Dominguinhos, contribuiu para estabelecer o primado semântico do forró que acabaria engolindo outros estilos. Apadrinhado por Luiz Gonzaga, incentivado pelos tropicalistas (seu parceiro em Lamento Sertanejo e Abri a Porta, Gilberto Gil estourou Eu Só Quero um Xodó, de Dominguinhos & Anastácia), o sanfoneiro de Garanhuns sempre reservava em seus shows uma parte para improviso instrumental de sanfona. Esse trecho apresentado como "forrózinho do Dominguinhos" ajudou a cristalizar o gênero formado por vários estilos e praticado há anos na periferia do mercado por sanfoneiros como Abdias, Pedro Raimundo, Zé Calixto, Zé Gonzaga e Zenilton, entre muitos.

De Sivuca e Chiquinho do Acordeom a Oswaldinho, Severo e Waldonys, além de recém-chegados como o híbrido (sertanejo paulista) Miltinho Edilberto e os grupos do Rio, Forroçacana, Trio Forrozão e Para Todos, o espírito gregário e extrovertido do gênero dançarino mantém um idioma comum. Hoje há até uma contrafação diluída (com tecladaria substituindo a sanfona), apelidada ó xente music, onde reinam grupos de grandes vendagens como Mastruz com Leite, Limão com Mel e solistas como Frank Aguiar, vulgo Cãozinho dos Teclados.

Tárik de Souza

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